Recife

Recife
Recife. Foto Rainner Arthur

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Poesias de Meu Pai

(A minha mãe)

Caminhei,
Despercebido e só
Pelas veredas antigas,
Margeadas de chananas branquinhas
Onde as abelhas matutinas
Raspavam o pólen virgem
Para o fabrico do mel
Na minha terra natal.

Desfiei pensamentos secretos
Sonhos desfeitos
Que no passar do tempo
A memória escondeu
Mas nunca apagou

Aqui eu vi,
A casa dos marimbondos
Na velha laranjeira
Onde o sabiá da mata
Chorava suas saudades
Quando o sol descambava
Por traz das folhas tremulas 
Dos coqueiros gigantes

Caminhei,
Despercebido e só
Pelas margens do riacho da Prata
Onde a lenda contava
Que no alagadiço
Sumiu o carro de bois
Com as três parelhas,
E a noite se escutava ainda
O chiado comprido e mal assombrado,
Ou o grito de eiaaa
Do carreiro desaparecido

Caminhei pelas noites enluaradas
Quando a lua apressada
Corria no céu estrelado,
Deixando para trás as sombras,
Alcançando sempre primeiro
O destino que eu sonhava

Minha mãe prevendo a queda 
Na carreira descompassada
Explicava sorrindo,
Não adianta correr
Caminhando ela chegará com você.

Poesias de Meu Pai - Devaneio

Quando pelas escarpas da colina
Corre a sombra da noite lentamente
E lá no topo o sino da capela
Mistura seu som aos tons do sol poente,

E os pássaros se aninham nas ramagens
Sussurrando baixinho os seus amores
Também a onda se arrasta pela praia
Chamando pra o descanso os pescadores

Sentado no aconchego da varanda
Eu procuro nas nuvens que se foram
As sombras que povoam o meu passado

Nas lágrimas que só os poetas choram
Desliza o teu retrato pela face
Do canto que jamais será cantado

Poesias de Meu Pai - S A U D A D E

 (elegia) À M José

Quando pousa o meu pensamento
Cansado de vagar no infinito
Na busca do silêncio que o motiva
Ou no sorriso triste de tua dor.

Como um frágil ramo verde
Vergado ao peso de tua imagem
Deixa cair o frio orvalho
Gerado nas dores da madrugada.

A folha pendida que varre o chão
Arrastada pelo vento da saudade
Roça de leve o rastro que deixaste
Gravado na areia do meu coração

Verga minh'alma ao peso reminiscente 
Do tempo enraizado profundamente,
E dos frutos já quase amarelados
Que choram no meu peito tua ausência.