Recife

Recife
Recife. Foto Rainner Arthur

domingo, 5 de abril de 2020

Poesias de Meu Pai - Minha Infância

Tenho saudades da infância
Da minha e também da vossa
Entro descuidado numa fossa
E a tristeza busca na distância

Motivos que não voltam mais
Rastros que se apagaram
Alegrias que se desmancharam 
Sombra acesa que se desfaz.

Escuto agora o bem-ti- vi
No alto daquela antena
 A visão se torna amena
Será o canto que ontem ouvi

No alto daquela laranjeira
Quisera meu DEUS quisera
Que o mesmo canto me espera
Na saudade derradeira

6.10.2019

Poesias de Meu Pai - Da Minha Janela

Hoje ainda fui a janela
Vê se ela estava lá
Estava sim na tocaia ela
Já cansada de esperar

O sol quando se deita
Por cima do casario
O bem te vi faz a festa
Tangendo das asas o frio

Quisera meu DEUS quisera
Ser tão alegre assim
Voar sobre as antenas
Comer moscas jardim

Ontem  mesmo um gavião
Mui metido a valente
Tomou peia das bichinhas
E voou na contra mão

Da varanda aqui ao lado
Tenho a casa do vizinho
Onde o colibri assustado
Beija as flores ligeirinho

14.11.2018

Poesias de Meu Pai - A Lua

Falar nisso meus meninos
Tá acontecendo coisa estranha
Ontem a noite fui a janela
Da casa a onde assisto
Pois no céu estava a lua
Numa animação medonha
Me bispando desavergonhada
Como se não fosse ela casada.

Fiquei muito encabulado
De ver coisa tão indecente
Pois seu marido é soldado
Por sinal muito valente
Matou o dragão coitado
Sem misericórdia aparente

Hoje ainda fui a janela
Vê se ela estava lá
Estava sim na tocaia ela
Já cansada de esperar

24.10.2018

Poesias de Meu Pai - Na Brasília Vermelha

Perambulei pelas praias
Mangue Seco e Sossego
Pontas de Pedras e Acau
Maragogi e Pitimbu
Itamaracá e Tamandaré
Eita família querida
A vida como ela é

Agora o meu presente
Está vivo no meu passado
Sou bicho velho quase ausente
Num recanto encostado

No banco traseiro da Brasília
Era uma festa danada
Um gritava outro cantava
Um arengava outro dormia
Na ida era festa
Na volta melancolia

22.10.2018

Poesias de Meu Pai - Lela

Manteiga minha manteiga
Amarela desastrada
Se bater tu vira queijo
Se esquentar vira coalhada

Manteiga minha Manteiga
Biscoito amanteigado
Nunca vi tanta insistência
Num café sem resultado

DEUS te abençoe Manteiga
Na tua fé tão renitente
Peço que te dê vitórias
Pra esfregar na cara da gente

Eu brinco mas acredito
Na fé que te consola
Vai em frente minha fia
Cura com força essa bola

04.10.2018


Poesias de Meu Pai - O Nada que Mata Tudo

O vírus maldito
Que a passos chineses
Corre no silêncio do medo
Assassinando o mundo.
Aqui, ali, deixa chorando
Uma viúva idosa
Que agoniza na dúvida
Esperando sua vez,
Deixa as cidades em alvoroço,
As pessoas desesperadas,
Confinadas na maldição do nada,
Maldizendo sua pequenez.
Sou menor que o maldito,
Que zomba a sorrir do infinito
Desconhecendo fronteiras,
Divisas, porteiras,
Fortalezas, riquezas,
Credos e cores.
É o corona, que serve a China matando o mundo.

25.03.2020

Poesias de Meu Pai - Corona Vírus

À noite, no silêncio do meu quarto,
As sombras que povoam a minha mente,
Desfilam vagarosas, docemente,
Enquanto noticiam quando parto.

O vírus se propaga num só ato,
Rápido, quase que instantaneamente,
Enquanto a ciência vagarosamente
Estuda o acontecer final do fato.

Confinam isolados os idosos,
Possíveis presas da dita morte,
Tal foice afiada tem certeiro corte.

Eu conto no silêncio os dias ditosos
Quando não esperava a dita sorte
De expor meu pescoço a cruéis maldosos.

27.03.2020